Sobre as limitações

Copenhagen, 1925.

Harald: Como vai, estimado Olaf?

Olaf: Vou mal... tenho pensado em quanto sou defeituoso. Cheio de limites e misérias, defeitos morais e defeitos físicos.

Harald: Só agora te deste conta disso? Na verdade, somos todos assim: incompletos e complementares.

Olaf: Incompletos e complementares?!

Harald: Sim, repare que és tu não muito belo, não muito inteligente, mas és rico, simpático, ordenado... Tens uma série de vantagens e virtudes, e outras te faltam. Eu, pobre que sou, pelo menos sou inteligente. Não muito belo, mas -- permita-me dizê-lo -- mais que tu. E somos amigos. Ninguém é completo, ninguém tem todas as virtudes e vantagens. E não há nada de mal nisso: não temos que ser completos e perfeitos. Perfeito, só Deus. Quando o homem quer ser Deus, se frustra, não se realiza.

Olaf: Mas por que me sinto tão mal em não ser perfeito, se não tenho nenhuma obrigação em sê-lo?

Harald: Para esclarecer: perfeito deves sim ser, mas perfeito dentro de tuas circunstâncias. Deves realizar todo o bem que podes dentro de tuas circunstâncias: rico, simpático, ordenado que és, feio e ignorante que és. E eu devo realizar também todas minhas potencialidades, diferentes potencialidades. E assim todos os homens. E uns ajudarão outros, porque têm talentos diferentes. Somos incompletos sozinhos, e complementares em sociedade. Na verdade, uns dependemos dos outros, e estamos em sociedade para ajudarmo-nos mutuamente: isso é o que ensina a doutrina mais tradicional, e também o bom senso.

Olaf: Minha pergunta não respondeste: de onde me vem essa angústia de não ser completo? De não ser, por assim dizer, auto-suficiente?

Harald: Vem, meu caro Olaf, do orgulho, grande mal que vive dentro de ti e de mim. Conheces o que te foi ensinado: desde o início o homem foi tentado pela idéia de ser igual a Deus. Nós somos capazes de angustiarmo-nos por não termos tudo e não sermos tudo que queremos. Por isso há que dominar a vontade, para querer retamente , de acordo com o que determine a razão, e não se deixar levar por paixões. Também há, é claro, que esclarecer a razão, para que seja reta também.

Olaf: Parece-me coerente.

Harald: Em reforço a essa má tendência, tendência essa que a simples observação do mundo e das pessoas comprova, temos a ideologia do liberalismo. O liberalismo separa o homem de seu ambiente social, tratando-o como um indivíduo isolado, não é verdade? Se ele é um indivíduo isolado, ele não pode mais contar com as virtudes e vantagens dos outros. Antes, dentro da doutrina tradicional, um homem tinha um pouco da riqueza e da inteligência dos outros, porque todos eram membros do mesmo corpo que é a sociedade. Agora, cada homem é isolado, deve ser um corpo completo. Por isso de cada um é exigido que seja rico, inteligente, virtuoso e belo: se não é completo e auto-suficiente, é um frustrado para o liberalismo. Isso explica também que estejas tu tão abatido... Quanto já não bebeste da ideologia liberal, que entra pelos poros no mundo de hoje?

Cem anos

A vida social é uma grande palhaçada. E, como boa palhaçada, me diverte. Faz-me rir pensar que toda aquela gente -- na universidade, na televisão, nas festas, em toda parte -- estará morta dentro de cem anos. Todos mortos. Hehe. Pois é: a vida só serve para ganhar a eternidade: fora disso, já é muita coisa fazer rir.


Esperada obra

Bernardo Veiga de Oliveira Alves lançará seu esperado livro sobre as bases racionais que possibilitam o diálogo inter-religioso! Será enfim lançado, no Solar do Jambeiro, esta sexta. Quem estiver pelo Rio, não perca essa oportunidade de visitar Niterói e participar do coquetel e noite de autógrafos. Abaixo o convite. É favor confirmar presença, o que pode ser feito de várias maneiras: uma delas, enviando a mim mesmo um email para [email protected].


Para portar-se no msn

Tenho a impressão de que os estados -- Ausente, Hora de Almoço, etc. -- no msn mais atrapalham que ajudam, em ordem a uma convivência harmoniosa naquele espaço. Além de que há gente que, quando está mas não quer falar, se diz Ausente. Ou Hora de Almoço. Ou Ocupado. Quero dizer: há uma grande confusão e só conhecendo cada pessoa alguém pode interpretar bem o que significa cada estado para ela. Como saber se Ocupado para Fulano é realmente ocupado e não algo como "fico muito tempo no msn, então se eu estivesse sempre Disponível poderiam pensar que sou carente ou preguiçoso; no fim, pode falar comigo que não vai incomodar..."?

Resolvi fazer o seguinte: quero e posso falar, estou Disponível, verde. Não quero, não posso ou não estou, estou Offline. Simples assim. O Ocupado também é interessante, se vc pensar que avisa que vc está ali, mas deixa claro que alguém que fale com vc deve ser breve, ou pode ficar sem resposta imediata... De qualquer maneira, não costumo usar.

Ps. Tsc, tsc... Que perda de tempo um post desses.

Sociologia de msn



Hoje vejo os nicks de meus amigos argentinos, no msn, e há abundância de "estudiando", "en estudios", "rindo el lunes", etc. Entre os brasileiros, não há nenhum assim.

Não é difícil entender o porquê. Primeiro, na Argentina há o esquema de fazer provas para uma matéria em diversas datas. Quem não faz a prova final no fim do ano, pode fazer no início do ano seguinte. Isto é, agora é época de provas para quem não as fez todas no fim do ano passado.

Já no Brasil, agora é justamente quando o ano começa, novinho e límpido, sem pendência: quem passou, passou; quem não passou, passasse. Agora começa tudo; agora, quero dizer, depois do carnaval. Uma semana sem aulas, aliás! E -- segunda razão dos nicks -- na Argentina não há feriado por causa do carnaval.

Assim pelos nicks de msn se podem esboçar dados sociológicos de um povo...

Novidade

Antes de mais, eu sei que falta contar coisas sobre Salta e etc. Não esqueci.

Não sabia que o Daniel Lourenço tinha um blog. Pois é: ele tem sim, e está aqui. De lá, o que segue:

--Você leu esse livro de poesia, A Luta Corporal, do Ferreira Gullar? Uma droga, não é mesmo?

--Sim, tampouco gostei.

--Os temas dele são só o desespero, os versos são livres claro. Reconheço que ele escreve bem, tem talento, mas de que serve se for para escrever sobre temas imprestáveis? Tá tudo uma droga e vai piorar. Ou, como os russos dizem, depois da tempestade, vem a inundação. Digo, ele pensa assim, eu não.

-- Mas você não acha que é um exercício razoável fazer de conta que está tudo ruim, falar da morte, do desejo de que tudo acabe, etc? Grandes autores trataram do desespero.

--Sim, estou por dentro disso. Mas o desespero dele não tem sentido. É um desespero por princípio, não aquele desespero silencioso, que todo homem pode ter, mas que volta e meia passa, se arranjamos algo de bom para fazer e nos dedicar, seja um curso de teatro, filosofia, dança. Parece que para o Gullar o mundo não tem jeito mesmo. Ponto final. Então, por que ele escreve isso?

--Ora, às vezes eles querem se expressar, só isso, jogar o desespero para fora, não sei direito.

--Nem eu sei. Alguns livros eu tenho vontade não apenas de me desfazer deles, mas de queimá-los, sabia?

--Isso inclui o livro do Gullar?

--Talvez, estou pensando no caso dele. Mas, por exemplo, O Manifesto do Partido Comunista é um livro que não quero que ninguém leia, joguei fora, podia ter vendido num sebo, mas joguei fora. Porque não quero que ninguém leia.

--Não seja tolo. O livro é influente, também não morro de amores pelo Marx, mas o livro deve ser lido.

--Por que deve ser lido? Vá lá, sei que é influente, mas acho um crime dar de ler a uma criança, a um jovem imberbe ainda, o Manifesto para ele. Que vá ler Platão, ou Aristóteles.

--E depois, bem depois, o Manifesto poderia ser lido, suponho?

--Supôs bem.

--E o que diria de quem chama isso de autoritarismo? Ou seja, essa tentativa de jogar para debaixo do tapete obras ruins para serem lidas só por gente madura?

--Chamaria de uma atitude platônica, ao invés de autoritária. Platão sabia que o jovem deve ser formado por obras edificantes. Vá lá que ele não gostava dos poetas, sobretudo da imitação tola...

--Eu tampouco gosto, tem imitação que não é tola, é macaquice.

--Foi o que eu disse. Indigna de um ser humano. Eu acho que não é errado você dar a ler ao jovem As nuvens, de Aristófanes, por exemplo, onde o autor satiriza Sócrates do início ao fim. Injustamente até, diria eu. Mesmo assim, é bom contrabalançar asperezas da filosofia com um pouco do senso do ridículo. Mas abusar da inteligência com filosofias pequenas, feito a de Marx, não.

--Pode ser, pode ser.



Matizes


 

Que mais de Montevideo? Uma coisa: a parte histórica da cidade está sendo restaurada. Há um mercado com muitos lugares para comer. Comi aí, e pela atitude do garcon se percebia que aquele lugar está mais próximo do Brasil que da Argentina. Na Argentina os garcons nao sao simpáticos como no Brasil. Nao sorriem, nao fazem graca; talvez se esforcem por parecer invisíveis. E no Uruguai – essa é minha experiencia – os garcons sao mais à brasileira. 

 

Faltaria muita coisa para contar. Uma coisa que me chamou atencao nas igrejas de Buenos Aires: todas têm uma tabela com telefones do Servicio Sacerdotal de Emergencia, que fica à disposicao de madrugada. Afinal, ninguém sabe a hora. 

 

Mais três coisas a comentar: o Bicentenário, as protestas e os chilenos. Em 2010 se comemora os 200 anos da Revolucao de Maio, quando os portenhos se rebelaram contra a Espanha napoleônica e constituíram governo autônomo "para conservar os direitos do legítimo Rei de Espanha, Fernando VII". Por conta do Bicentenário, planejam exposicoes, restauracoes, eventos…

 

Interesantes sao as manifestacoes e protestos na rua. Sao coisa quotidiana e em geral pacífica. A policía já fica de prontidao e conta com umas grandes grades desmontáveis que poe em frente à Casa Rosada. 

 

Agora, os chilenos. Há uma birra com os chilenos muito forte. Deixo comentado isso, e depois falamos melhor do assunto. Sao várias coisinhas que vao juntando e atritando as relacoes entre argentinos e chilenos. Eu nao imaginava, por exemplo, que faz 30 anos quase houve uma guerra entre Argentina e Chile, que só nao comecou devido à intervencao de Joao Paulo II.

 

Ah, antes que eu esqueca: alguém conhece esse tal de Armandinho? "Quando Deus te desenhou, Ele estava namorando...": que sofrível! Eu já tinha ouvido essa pérola de música no Rio, mas que era do Armandinho (e quem fosse Armandinho) eu nao podia supor, hehe. O tal do Armandinho é muito conhecido por aqui.


Monte Vide Eu

 

Chegamos a Montevideo e fomos para o hostel, na Plaza Independencia. Uma enorme estátua de Artigas na praca. Aliás, há Artigas por todas as partes, inclusive em todas as moedas.

 

No hostel, encontramos Daniel, um alemao que está também na Austral. Contou-nos que, pela cidade, pediam dinheiro a ele dizendo: "Ei, amigo brasileiro!", hehe. Estava ele com mais três alemaes, e todos passaram por brasileiros, hehe. Vai entender a mente uruguaia… Os gaúchos devem visitar muito Montevideo. Mário, Daniel e eu fomos a Ciudad Vieja, que tem bares e boliches e lembra um pouco a Lapa, com suas ruas estreitas e edifícios antigos carcomidos.

 

Montevideo se revelou uma cidade multifacetada. Há várias Montevideos: uma parte que parece a Buenos Aires, com ruas arborizadas; uma parte mais histórica e menos cuidada; tem a Rambla, que é como uma avenida costaneira… Percebe-se que a parte original de Montevideo é como uma ponta circundada pelo rio.

 

O mate. Andando domingo de tarde pela parte mais portenha de Montevideo, via quase todo mundo tomando o mate na rua. Carregam a cuia, a garrafa térmica, tudo, e vao andando, conversando e tomando mate. Nao é raro ver avisos como "nao jogue erva aqui" e "proibido entrar com mate".


Com fuso horário

 

Para almoçar, comi um chivito, que é um sanduíche muito bem servido típico do Uruguai. Leva carne de vaca, presunto, mussarela, bacon, azeitonas e salada. Comi um chivito em Colonia e outro em Montevideo. O de Colonia era como um super-hambúrguer, que vinha com batatas fritas, refrigerante e sobremesa. Em Montevideo, veio no prato, e em muito maior quantidade, além de outros complementos, como salada de batata. Así que, passamos agora a outro assunto, hehe: acho que já falei de comida mais que o suficiente.

 

Interessante é a perceptível preocupação argentina em deixar claro que aquela região não é de mais ninguém senão deles. Para eles, os "orientais" não formam nada mais que uma província que, por circunstâncias históricas, se transformou numa república independente. O mais curioso, porém, é que os uruguaios dão a impressão de querer ser argentinos. Em Colonia, a par de meia dúzia de monumentos e plaquetas a Portugal, há um verdadeiro arsenal ideológico argentino: um consulado e um centro cultural argentino (numa cidadezinha daquele tamanho!), além de bustos de San Martín e agências do Banco de la Nación.

 

Só vi um consulado além do argentino, e surpreendentemente é da Ordem de Malta! Talvez essa tenha sido a parte mais hilária da visita ao Uruguai: no meio de uma ruazinha daquelas, na parte não-histórica, uma casinha à beira da rua, sem mais que 10 metros de frente, com um aspecto de anos 50, e na frente uma plaquinha anunciando que ali funcionava um consulado da Soberana Ordem Militar de Malta (que é um sujeito de direito internacional). Deu a pensar, hehehe. Que será que faz esse cônsul aí?

 

Bom, gostei muito de conhecer Colonia. O ônibus para Montevideo saía pelas sete e pouco. Fomos para a rodoviária, que fica a dez minutos de caminhada da parte histórica. Aí soubemos que Montevideo tem fuso horário em relacao a Buenos Aires! É impressionante que Buenos Aires tenha o mesmo horário de Porto Alegre e Rio de Janeiro, e Montevideo nao. Do oeste para o leste, Montevideo fica entre Buenos Aires e Rio (ou estou enganado?). Felizmente trocaram a passagem tranquilamente e grátis.


Na Cisplatina

 

Este fim de semana, de sexta a domingo, fui para o campo, para uma estância. Espetacular, hehe. "La pasé re bien", como dizem aqui. Piscina, cavalo e uma comida espetacular, incluindo um churrasco no sábado. Até cama elástica, no meio da relva, tinha. Chama-se Estancia San Patricio o lugar. Uma coisa que se nota fácil – especialmente num campo como o em que eu estava – é a diferença do sol e das cores: o sol é tíbio e as cores, mais pastosas. A vegetação normal é a de um bosque temperado. Na sombra, o sol não arde. As árvores, muito iguaizinhas e as folhas com um verde meio morto (e olha que estamos na primavera…).

 

Na semana anterior à Festa da Família, ou seja, 18 e 19 de outubro, fui à Província Cisplatina, digo, à República Oriental do Uruguai. Fui com Mário. Pegamos o buquebus em Puerto Madero às 9h30. O barco de primeiro nível. O free shop navegante não tinha lá preço de free shop, mas aspecto tinha pelo menos. O barco muito bom, com três andares e espaço aberto em cima. Três horas de viagem até Colonia do Sacramento. Chegamos em Colonia e andamos por toda a cidade. Colonia fica em frente a Buenos Aires: foi fundada por um português – Manoel Lobo, se não me engano – que era Governador do Rio de Janeiro na época.

 

Bom, vamos ao dia em Colonia. A cidade é bem pequena e muito bem cuidada. É muito tranqüila, e o núcleo histórico preserva bem o ambiente colonial. Realmente uma cidade muito agradável. Junto com as paisagens bonitas e prédios históricos, há vários restaurantes e bares que avançam sobre as calçadas e ruas de paralelepípedo. Há muitas praças também. Depois da parte histórica, estão ruazinhas calmas e limpas, com pequenas casas, como numa típica cidade do interior.

 

Chamou a atenção que muitos "museus" – dizer museu é forçar um pouco também – estavam fechados. Não fez muita diferença: os principias edifícios e sítios históricos ou estavam abertos ou são ao ar livre, e os "museus" fechados em sua maioria se podiam visitar espiando pela janela. Ficamos, porém, com a impressão se reforçou quando fomos pedir um táxi: perguntou o taxista se tínhamos agendado, hehe. Tratava-se uma viagem de cinco minutos! E estavam todos os taxistas folgadamente batendo papo. Além disso, o preço: bem mais caro que em Buenos Aires (poderia arriscar que era cinco vezes mais caro). Realmente, não davam a impressão de querer trabalhar… Posso estar enganado, mas…


Cleto

 

Meus amigos, já sinto que o tempo em Buenos Aires se vai esgotando. As aulas vão (aprendi a colocar o til!) até o 14 de novembro, e depois está a preparação para os finais. Duas semanas atrás, no sábado 25, na residência houve a Festa da Família: vêm familires e amigos dos residentes para uma confraternização. Saiu tudo muito bem. A festa terminou pela uma da manhã. Depois ainda fomos a um boliche.

 

Não lembro se já comentei antes dos nomes portenhos. "Por las dudas", comento de novo. Chamou-me a atenção a diferença entre os nomes comuns para a gente de 20 anos no Rio e em Buenos Aires… Se, no Rio, Tiago, Rafael, Bruno, Felipe, Carolina são nomes que nunca faltaram nas turmas com que estudei, em Buenos Aires os nomes mais comuns são os seguintes: Facundo, Ezequiel, Federico, Emiliano, Agustín, Ignacio, Tomás, Martín, Matías… Entre as meninas, é Lucía o mais comum seguramente. Eu não conhecia nenhum Facundo antes de chegar em Buenos Aires. Outra coisa é que quase todos têm um segundo nome, que no dia-a-dia nunca usam: Mariano Estéban, Tomás María, Martín Javier… esses são nomes reais de amigos que fiz por aqui.

 

No mês passado houve uma visita de algumas turmas da Faculdade de Direito ao Congresso argentino. Fizemos uma visita guiada pelo prédio antigo, conhecemos os plenários da Câmara e do Senado, e depois um encontro com o Vice-Presidente da República, Julio Cobos. Cobos, que, de acordo com o costume argentino, é também Presidente do Senado, votou contra as retenciones, no conflito do governo com o campo, numa votação já que é histórica.

 

Todos tiraram tantas fotos quanto queriam com o Vice-Presidente, e depois fomos para um prédio anexo, mais moderno, para um encontro com dois legisladores de partidos diferentes, a UCR e o PRO. Foi uma tarde muito interessante para um brasileiro naquela situação… Expressões recorrentes eram: "Cristina tem que aprender com Lula…", "Porque no Brasil as coisas não são assim…", "O empresário no Brasil tem incentivo…" e coisas parecidas. A "Presidenta" estava no Brasil nesses dias. Descobri aí que não é só no Brasil que praticamos o masoquismo nacional. Uma hora o deputado da UCR disse: "Temos que parar de invejar o Brasil e começar a trabalhar!". Foi um pouco engraçado.


80 anos

 

No último dia 2 de outubro houve festa (com coquetel e tudo, hehe) aqui na residência (aproveito para indicar o site da residência: www.residencialosal . .ar). È que o Opus Dei comemorou 80 anos de fundaçao. Na Austral também houve comemoracao. Para quem nao sabe o que é o Opus Dei, trata-se de uma instituiçao da Igreja Católica – juridicamente uma prelazia pessoal – cuja missao principal é recordar que todos os homens e mulheres estao chamados a ser santos. A mensagem do Opus Dei é a chamada universal à santidade: que todos os homens, seja qual for sua profissao, podem e devem, no meio em que vivem, buscar a perfeiçao crista, dando ao trabalho um sentido de alegre e esforçado serviço a Deus e aos demais. Quem quiser mais informaçao pode procurar em www.opusdei.org.

 

Quatro páginas já… Que mais tenho para contar? Bastantes coisas teria, mas sono também já tenho suficiente, e amanha tenho aula. Sobre o futebol: o Fluminense ficou bem popular aqui depois que ganhou do Boca, principalmente entre os torcedores do River. Os "hinchas" do River na Austral ficaram bem contentes de saber que havia um tricolor ali, hehehe. E os do Boca tiveram que sofrer um tanto com isso… Por outro lado – "así es la vida", como dizem aquí – na residência tem um equatoriano… do LDU. Esse me importunou bastante, mas agora já está mais calmo.

 

Por fim, neste fim de semana devo ir ao Uruguai. Visitarei, se tudo der certo, Colonia e Montevideo. Espero depois poder contar como foi. Mando um grande abraço e peço desculpas se o relato estava um pouco confuso ou "aburrido"… a verdade é que já estou com sono mas se nao terminasse de escrever hoje nao sei quando sairia, hehe.


Luna Park

 

O ambiente, o "jeitao", da Faculdade de Comunicacao é bem diferente. Aí minha matéria é no quarto ano. O pessoal é um pouquinho mais velho, me parece que por volta dos 25 anos. É comum que tenham começado outra carreira antes, ou fazem segundo curso. Têm um jeito mais IACS (nao encontrei melhor síntese) de ser também, hehe. É bem diferente da Faculdade de Direito. A própria estrutura do andar, as cores, as salas, as cadeiras, as roupas, o jeito de andar, o jeito de falar, os professores… Hoje é quinta, dia da aula de Sociedades Secretas. Hoje era sobre os essenios, os thugs e os assassinos (sim, assassinos sao uma sociedade secreta persa: nem todo homicida é assassino). Além disso, uma menina levou várias peças de indumentária e diplomas maçônicos que eram de seu bisavó: impressionante! Muito legal mesmo.

 

Se lembro mais alguma coisa da Austral, já escrevo. Passemos a outros assuntos. Ontem fui a um show no Luna Park: Emir Kusturica & the No Smoking Orchestra. É mais um passo meu no mundo balcânico… Estava muito bom. Tinha muita gente filmando e é provável que já esteja algo no Youtube. Interessante, aliás, esse serviço social, hehe: gente que se dispoe a arriscar sua camera – além de nao ver tao bem o espetáculo, porque com a preocupacao de gravar – para compartilhar o show. Fomos quarto: Naibi, Mário, Rémi e eu. O Mário e o Rémi eu já apresentei no primeiro email. A Naibi, que é do interior da Argentina, estuda Medicina e mora na Casa Grande, onde eu morava e mora o Mário. Nao conhecia o Kusturica direito: o Mário é que falou dele, fiquei escutando bastante por essas semanas e ontem fui ao show. É bem interessante! E um adendo: nao me comprometo com as opinioes políticas do sr. Kusturica, que, além do mais, nao conheco muito bem.

 

Continuando no âmbito dos concertos, faz umas semanas fui ver a Orquestra Sinfônica Nacional (sim, de Niterói!) no Teatro Avenida, um teatro centenário na Avenida de Mayo. Um tempo antes do concerto, puseram outdoors em toda Buenos Aires fazendo propaganda. O outdoor muito bem feito, que anunciava a "Orquesta Sinfónica Nacional de Brasil", regida por Lidia Amadio. Mas nao se encontrava mais informacao na Internet. O centenário teatro nao tem site, no site da OSN nao dizia nada… Mandei um email para a UFF, e aproveitei para perguntar se nao havia como conseguir uns convites para esse pobre estudante da UFF, niteroiense em Buenos Aires… Consegui e fui. Muito bom! O concerto esteve perfeito, além de fazer matar um pouco da saudade. Começaram com Ravel – no piano, Linda Bustani – e seguiram com Ginastera, para contentar um pouco os argentinos. Depois do intervalo, Camargo Guarnieri e, para fechar, Villa Lobos. De bis, tocaram Aquarela do Brasil, um tango e uma selecao de choros. Foi simplesmente espetacular. Voltei para casa mais que satisfeito.


Flaviao

 

Voltando à Austral: Filosofia do Direito é matéria de terceiro ano e Ciência Política, de primeiro. O primeiro ano tem duas comissoes. A partir do segundo ano, é uma turma só por ano. As turmas vao se afilando, e se entrosando mais também. O pessoal do primeiro ano é gente boa, tem um par de meninas e de garotos especialmente gente fina, mas eu me sinto bem melhor no terceiro ano. Talvez seja um questao de idade apenas, mas acho que o ambiente é mais agradável porque os alunos já estao mais amigos uns dos outros. Chamam-me "Flaviao" aí, hehe. (Nesse caso o til nao faz falta, porque nao usam mesmo, hehe.)

 

Um hábito interessante na faculdade é o de haver vários professores para cada matéria. Em Filosofia, sao quatro professores. Em Políticas, três. Os quatro de Filosofia do Direito sao Pilar Zambrano, Juan Cianciardo, Juan Bautista Etcheverry e Enrique del Carril. De Políticas, Fernando Alvarez Alvarez, Guillermo Bustunduy e Teresita Segret. Gostei desse jeito porque cada professor enfoca uma parte da matéria, provavelemnte a com que tem mais afinidade. Em Políticas, por exemplo, Alvarez e Bustunduy se revesam em diferentes períodos da História do Pensamento Político e Segret cuida da Teoria Política.

 

Em Filosofia do Direito, estamos estudando com profundidade o pensamento positivista e sua crítica. O pensamento jusnaturalista clássico é apresentado em Introducao ao Direito. Juan Cianciardo é o professor titular de Filosofia do Direito e decano da Faculdade. No primeiro dia de aula, sabendo que eu era do Rio, disse que os melhores alunos que teve nessa matéria eram intercambistas da UERJ, e complementou: "Así que hay que manter la bandera alta". Vitor e Rafael,  vejam só o que vocês me arrumam!... Outra dessas que eu passei aqui foi com o pessoal do primeiro e segundo ano. Eles fazem um seminário obrigatório sobre "responsabilidad ciudadana", de tarde, com o Prof. Fernando Toller, de Constitucional. O fato é que, nao sei bem o porquê, saiu no seminário o tema do vestibular no Brasil, e comentou o professor como é concorrida uma vaga para estudar Direito na UERJ. No dia seguinte, vieram vários de primeiro ano me perguntar sobre o temido vestibular, como que eu fiz para passar, etc. Depois desses episódios, fiquem vocês a imaginar minha situacao aqui: se eu vou mal nas provas, nao aprovo uma matéria… Nao seria nada agradável, e nao é tao difícil que aconteça. Isso o tempo dirá como vai ser.

 


Vida cultural

 

Bom, retomo o fio da meada mais de duas semanas depois. Foram duas semanas de estudo para as provas. Hoje, que é 16 de outubro de 2008 (quase 17 já), recebi o resultado de Filosofia do Direito, e foi bem melhor do que esperava: fiquei com nove. Recebi também um informal atestado de proficiência na língua espanhola: na aula, o professor Barcia elogiou o nível de espanhol da minha prova, hehe. Se o presidente da Academia de Letras diz isso, quem sou eu para discordar?

 

Sobre as matéria e o quotidiano na Austral. Meu horário é o seguinte: segunda nao tenho aula, terça tenho Ciência Política de 8h a 13h05. Quarta, tenho Filosofia do Direito de 10h45 a 13h05. Quinta, o Seminário de Comunicacao de 11h a 13h15. Sexta, Filosofia do Direito de 9h15 a 11h50. Tranquilo. Até agora nao me inscrevi em nenhuma matéria de pós-graduacao: posso entrar como ouvinte e me contam as horas. Tem umas interessantes. Escuto também conferencias e seminários na Austral e em outras faculdades. Na Austral, estou inscrito no Law & Cinema Seminar, em que discutem filmes com temática jurídica em inglês.

 

Sobre as palestras, cursos, etc. interessantes que há em Buenos Aires, eu tinha pensado em citar todos, mas é realmente algo bem custoso de fazer. Nao há como comparar com o Rio de Janeiro. O que no Rio – pelo menos em certos ambientes – seria um evento especial, aqui é algo banal por razao da quantidade com que se oferece. Já me vi, e nao poucas vezes, na situacao de ter que escolher entre duas (ou mais: já passou) palestras muito boas que ocorriam no mesmo horário.


Feriado garantido

 

Da mesma forma, como o dia do estudante – que, de todo modo, nao é feriado oficial – caiu num domingo, a Universidad Austral houve por bem antecipá-lo para a sexta-feira. O calendário da universidade previa o dia 19 de setembro como Día del Deporte. Acontece que a Austral – além do prédio na Av. Juan de Garay 125, e também de uma faculdade em Rosario – tem um campus em Pilar, uma regiao perto da capital: aí já funcionam o Hospital Austral e o IAE, escola de negócios. Está sendo construída também um parque científico e tecnológico, o Parque Austral. Mais informacoes em http://www.parqueaustral.edu.ar/ e no site da universidade: http://www.austral.edu.ar/.

 

Muito bonito o lugar. Aí há campos de futebol, quadras de tênis, etc. Foi todo mundo da universidade para lá – alunos, professores, pessoal administrativo… – para um dia de descanso e confraternizaçao. Houve um campeonato, com troféus e medalhas inclusive. Chamou atençao o nível de organizaçao das equipes, com uniformes próprios e patrocínio. Uma de Comunicaçao Social tinha patrocínio da Samsung, por exemplo.

 

Hoje é domingo, dia 28 de setembro. Lei do Ventre Livre. Bom, as próximas duas semanas sao de parciales – as primeiras provas – na Faculdade de Direito. Nao há aulas para as pessoas estudarem melhor. Depois compensam na terceira semana com aula em dobro. Eu tenho três matérias na Austral, sendo que duas sao no curso de Direito – Filosofia do Direito e Ciencias Políticas – e uma no de Comunicaçao Social – um seminário temático sobre Sociedades Secretas.

 

Como a Facultad de Comunicación nao tem esse periodo especial de parciales, já fiz o parcial das Sociedades Secretas junto com as aulas mesmo. E já tenho a nota: fiquei com oito e meio. Quanto a isso de fazer uma matéria sobre sociedades secretas, ocorre que, no quarto ano de Comunicacao Social, os alunos têm que escolher alguns Seminários temáticos, que sao verdadeiras matérias, sobre assuntos aleatórios – por exemplo, sociedades secretas. E me recomendaram esse especificamente porque, além de ser um tema interessante (já falo do programa do curso), o professor é um mestre da língua espanhola. Chama-se Pedro Luis Barcia, e é presidente da Academia Argentina de Letras e membro de número da Real Academia Española de la Lengua. A aula dele é muito boa mesmo: ele fala muito bem, prende a atencao, e tem um humor único. Faz gracejos com os alunos, hehe. Alto e corpulento, e também pelo uso constante da ironia, lembraria um Chesterton sem bigodes. E por fim é simples e acessível, nem um pouco pedante.


Primavera portenha

 

Faz uma semana começou a primavera. Imagino que no Rio isso nao tenha sido um evento especial, mas aqui em Buenos Aires foi. A primavera aqui é levada muito a sério, hehe. É impressionante como a estaçao muda de fato: de um dia pro outro, a temperatura aumentou e ao longo da semana se manteve assim. Se, na semana passada, a noite era muito fria, agora é agradável e o casaco já nao é tao necessário. Outra coisa: as árvores – a maioria delas seca até a semana passada – já apresentam pequenos pontos verdes, folhinhas ainda que – imagino… ¿que sé yo? – vao crescer até o verao.

 

Um dado curioso é a alergia a primavera. Muita gente fica mal quando chega a primavera, com reacoes alérgicas. Curioso. Tenho um amigo aqui que ficou gripado toda a semana passada, e inclusive de cama por dois dias. Perguntei o que houve e ele me explicou o motivo: "é a primavera". Hoje vi um cartaz na rua: "Con la primavera vienen todas las alergias. No te olvidés de (nome do antialérgico). Aprovechá la primavera". Mais ou menos assim era a mensagem.

 

Apesar das reaçoes alérgicas de alguns, a chegada da primavera é comemorada com picnics pela maioria. Saem para as praças, tomam mate e tocam violao. Todo mundo, e principalmente os mais jovens. O 21 de setembro é dia da primavera e também dia do estudante. Esse ano caiu num domingo, mas os argentinos têm o (agradável) costume de transferir os feriados quando caem em fim de semana. Assim, por exemplo, a comemoracao da morte do General San Martín – 17 de agosto – caiu num domingo: na segunda nao teve aula. Agora, o 12 de outubro – que nao é Nossa Senhora Aparecida, mas o Día de la Raza, que comemora a Descoberta da América – cai também no domingo, e o 13 é que vai ser feriado.


Aspectos comezinhos

 

Passemos à comida em Buenos Aires. Adaptei-me bem – muito bem, posso dizer – à comida daqui. Seguem alguns dados. Em primeiro lugar, o doce de leite: está por toda parte, a toda hora, e os argentinos crêem que o inventaram e disso têm um orgulho enorme, hehe. A carne é realmente muito boa, mas os cortes sao diferentes: nao há picanha, maminha, etc. Há bife de chorizo, asado de tira, lomito, etc. O corte é diferente, nao só o nome.

 

Quando se vai a um restaurante, sempre te dao antes da comida uma cestinha de pao com um molhinho ou manteiga. Isso é muito bom porque você mata a fome com o paozinho e depois aproveita o prato principal. Para beber, vinho é algo banal. Volta e meia tem para beber, além de cerveja, durante as refeicoes na residencia. Vinho é bem barato aqui.

 

No mes passado, enquanto nao estava em Los Aleros, comi muito na rua para nao ter que fazer a comida. Foi bom para conhecer restaurantes e comidas diferentes. Para quem tem reais, sai – ou saía? – bem barato. E mesmo o preco nominal nao é caro. Cada dia pedia um corte diferente de carne, e também fui a pizzarias – que pizza a daqui! – e um ou dois restaurantes raros, como um de comida andina. Quanto a junk food, Burger King é a melhor coisa que há aqui. Nunca tinha saído realmente satisfeito de um fast food… até ir ao Burguer King.

 

Sinto falta da feijoada e da farofa. Nao há aqui. Também nao vejo os limoes verdes que temos no Brasil. Aqui sao daqueles grandes e amarelados, limoes sicilianos. Prefiro os limoes do Brasil. Mas, como dizia, me adaptei bem à comida. Sinto mais falta mesmo é da farofa. Comer carne tao boa mas sem farofa…

 

Teria bastante coisa mais para contar: sobre as Jornadas Internacional de Direito Natural, sobre como andam as matérias na faculdade, sobre a Austral em geral, sobre os argentinos, algumas observacoes… Mando outro email logo. Um grande abraco!


Em Belgrano

 

Na primeira semana de setembro vim para a Residencia de Los Aleros, em Belgrano. O site da residência é este. Comecemos pelo bairro. Belgrano é um bairro de famílias tradicionais em Buenos Aires. Fica depois de Palermo, que fica depois da Recoleta. Há 22 embaixadas em Belgrano. Perto daqui fica também o Monumental de Nuñez, estádio do River Plate. Lojas, cafés e um ar meio paulistano: Belgrano é mais ou menos assim.

 

A casa em que está Los Aleros já é centenária, e um tanto aristocrática. É bem grande, de modo que até a semana passada ainda me perdia por aqui. Salas, saletas, portas e escadas por toda parte. Eu vivo no terceiro andar, que tem um hallzinho muito agradável, com um tocador de discos – além de bastantes discos bons – e um razoável número de álbuns de Tintim e de Astérix. Um boa poltrona, um abajur, Tintim e uma vitrola: muito bom. Pensei até em comprar um cachimbo para completar o quadro.

 

Essa residência é simplesmente espetacular. De verdade. Se alguém quiser mais informações, fale comigo.

 


Segunda edição



Posto em seguida os emails que enviei a amigos sobre a vida em Buenos Aires. As totos dos posts foram tiradas por mim mesmo. Direitos reservados.

* * *

Depois de mais algumas semanas na capital argentina, pretendo contar o que se tem passado aqui. Tenho adiado isso faz tempo porque nunca sei por onde comecar… Vamos ver se desta vez sai. Lembro que o teclado argentino é diferente, así que…

 

Primeiro, onde moro. Estive o mes passado numa residencia chamada Casa Grande. Estava muito boa, as pessoas muito legais também. Mas eu nao me adaptei muito bem à situacao de ter que pensar o que comer, comprar e fazer… E também a roupa: pôr para lavar e secar é fácil, mas passar já nao é tanto. Aí limpavam o cuarto diariamente e também havia o desayuno, exceto aos domingos. Ficava em San Telmo, muito perto da Universidad Austral.

 

San Telmo é um bairro de turistas. Tem muito estrangeiro aí, mas os portenhos nao gostam muito de morar no bairro. Fica deserto de noite. Em frente à residencia em que estava, há um bar inglês. Muito bom. Era como o prolongamento da casa, e todos da residencia vao sempre aí. Em San Telmo, conheci também a Igreja de San Pedro Telmo, que é realmente muito bonita. Uma imagem me chamou atencao na igreja, que é um Niño Jesús Alcalde, o Menino Jesus vestido de prefeito (um alcalde hispânico do século XVII, vale dizer).


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